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Junguiana

Psicologia

&

Alquimia

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Legenda: Alquimista | Imagem gerada por I.A. Fonte: Freepik

Jung passou os últimos dez anos de sua vida estudando a alquimia e descobriu que o processo alquímico em busca do ouro correspondia a um processo psíquico, ou seja, enquanto realizavam suas experiências químicas nos laboratórios, os alquimistas passavam por determinadas experiências psíquicas que lhes pareciam ser próprias das substâncias e processos químicos. Na verdade, como se tratava de uma projeção, o alquimista vivenciava estas experiências psíquicas como uma qualidade especial da matéria, mas o que ele atribuía ser o comportamento particular do processo químico era, na realidade, do seu próprio inconsciente.

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O ponto culminante do procedimento alquímico, a criação da Pedra Filosofal, continua sendo a etapa mais misteriosa e complexa. Em um sentido mais direto, tanto o processo de individuação quanto o simbolismo alquímico concentram seus esforços últimos no momento da coniunctio (conjunção), ou seja, concomitantemente no encontro consciente do ego com o Self e na produção final da Pedra Filosofal. Assim, a operação alquímica da coniunctio era o objetivo último, onde o alquimista esperava atingir a meta da obra, o verdadeiro ouro. Desta maneira, toda a Opus alchymicum correspondia, numa perspectiva junguiana, aos esforços do homem para alcançar o centro do processo de individuação.

E foi em busca de tentar mapear estes processos psíquicos que ocorrem nos percalços do caminho em busca do centro no processo de individuação que a presente autora ingressou no programa de Pós-Graduação da PUC/SP, pois embora há uma complexidade própria de cada psique e uma individualidade única em cada ser humano, Jung, através da alquimia, apontou um caminho para estabelecer um esquema típico de sequência de fases, ao menos de modo genérico. Podemos citar o fato de que as três fases conhecidas na alquimia, a nigredo, a albedo e a rubedo foram estudadas por Jung, à luz da psicologia profunda. Entretanto, não há uma análise coerente do processo destas três fases reunidas e, consequentemente, um entendimento deste processo alquímico como um todo, assim como dos processos inconscientes correspondentes, visto que os comentários de Jung sobre os simbolismos destas fases encontravam-se distribuídos de forma aleatória em suas obras. Que o encontro com o caos da prima materia, na fase da nigredo, trata-se, em uma análise junguiana, do tema do encontro com a sombra, transformou-se quase em senso comum no meio acadêmico. Entretanto, na ótica junguiana, qual o sentido do tema da subida e da descida do volátil, antigamente desenvolvido pelos filósofos da arte no enigma: torna o fixo volátil, e de novo, torna o volátil fixo, e também no conhecido axioma alquímico, solve et coagula – dissolve e coagula – que descrevem, ambos, o processo de purificação e regeneração da matéria, através de sucessivas destilações, na fase da albedo?

A alquimia, ao atribuir fases aos processos alquímicos, demonstra à psicologia analítica que formas simbólicas se sucedem nestas. Consequentemente, um estudo das três principais fases alquímicas reunidas, as quais obedecem a sequência nigredo, albedo e rubedo, que promova um entendimento do processo alquímico como um todo e também da relação que estas estabelecem com os processos psíquicos correspondentes, se fez necessário. Sendo assim, a simples possibilidade de ordenação destes simbolismos presentes nas fases alquímicas, dentre uma massa caótica de simbolismos que a alquimia engloba, e o estabelecimento de analogias apropriadas, como as propostas no estudo, embora não represente o esquema geral do fenômeno, com todas as particularidades e singularidades de cada indivíduo, se justificou. Daí nasceu a obra “O Self e a Pedra Filosofal”, resultado da tese de mestrado em Ciências da Religião.

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Através desse mapeamento simbólico alquímico e, consequentemente, o estabelecimento das devidas relações com o processo de individuação, como apontado pelo próprio Jung, a autora encontrou bases sólidas que ajudam na orientação dos pacientes nesse caminhar do processo de individuação, podendo apontar, através do simbolismo correspondente, qual etapa mais se relaciona com seu momento atual de vida correspondente. Lembrando que o encontro do ego com o Self é um eterno processo cíclico, que percorre toda a vida do indivíduo, cuja meta psicológica está no fato de trabalharmos incessantemente em busca do encontro com o Si-mesmo (Self). Neste processo, necessita-se sempre voltar atrás e, continuamente, restabelecer as relações com o Self, permitindo que o conflito seja superado e elaborando uma síntese em nível superior. Conseqüentemente, a ampliação da consciência se faz por etapas e ciclos e assim, aos poucos, passa-se a integrar os conteúdos inconscientes na consciência.

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