Psicoterapia
Junguiana
A psicoterapia junguiana, também conhecida como psicoterapia analítica, tem como fundamento a teoria da Psicologia Profunda do psiquiatra suíço Carl G. Jung. Ela se baseia no que Jung nomeou de processo de individuação, que é um processo em busca do centro interior da psique, o Self, o centro diretor da nossa vida, que em parte é consciente, parte inconsciente. Por isso, a psicoterapia junguiana trabalha para integrar os aspectos inconscientes à consciência e encontrar um equilíbrio entre o mundo interno e externo. Individuação significa se tornar único, isto é, a pessoa busca fazer-se inteira, encontrando um equilíbrio das partes conflitantes, isto é, completa, mas imperfeita porque consegue se distinguir das outras pessoas e do que a psique coletiva elege como caminho ideal, correto e perfeito. Por isso, o nome individuação, porque se completa como tendência de indivíduo único, realizando a sua singularidade.

Legenda: Carl G. Jung Fonte: https://www.jogodeareia.com.br/carl-g-jung-biografia/
Ao contrário do que o senso comum pensa, o processo de individuação não consiste unicamente na análise das imagens do inconsciente, como os sonhos, os mitos, etc. Isto é apenas parte do processo, representa a sua realidade interna. O seu complemento necessário é a realidade exterior, o desenvolvimento da individualidade e o seu destino. Ambos os aspectos do processo psíquico são regulados pelo poderoso arquétipo do Self. Alguns indivíduos possuem um envolvimento intenso com o mundo material e uma atenção excessiva nessa adaptação, o que acarreta em uma preocupação exagerada com essas questões pessoais, em busca de conquistarem o mundo e se tornarem vencedores, mas muitas vezes essas pessoas não são capazes de se conectarem com o seu interior e assim falham na simples tarefa de ouvirem suas próprias intuições. Por outro lado, outras pessoas podem considerar de pouca valia as mais variadas manifestações exteriores, e se voltarem exclusivamente para os processos interiores, como justificativa de uma busca de auto-conhecimento, o que acarreta no mesmo sentimento de excepcionalidade, embora por razões contrárias. Tais indivíduos podem ter uma espiritualidade bem desenvolvida, tornando-os especialmente zen, mas muitas vezes a adaptação no mundo real é um tanto precária. Assim, o objetivo do processo é o desenvolvimento da personalidade que pressupõe e inclui relacionamentos coletivos e a realidade exterior, isto é, não ocorre em um estado de isolamento.

Neste sentido, os obstáculos e percalços mais comuns durante o processo de individuação são a inflação e a megalomania, de um lado, e a depressão e a falta de motivação, do outro. Em ambos os casos, existe a desorientação acompanhada ou de um sentimento de imenso poder e imparidade – os quais são mais resistentes à procura de ajuda psicoterapêutica − ou de um senso de desvalor, de não se ter nenhuma importância e vitimismo. O primeiro representa um estado hipomaníaco; o segundo, depressão. Sendo assim, no processo de individuação, a pessoa estabelece um canal de comunicação com o Self, a tal ponto que este exerce a diretriz da vida do indivíduo, tornando-o consciente no que tange ele ser um ser humano único, como ao mesmo tempo, inserido em um contexto humano, com todas as questões que envolvem uma pessoa comum. Daí a importância da descoberta dos arquétipos e das tendências arquetípicas do inconsciente coletivo por Jung, como tendências coletivas universais e atemporais de comportamento humano, formando padrões de pensamento, imagens e símbolos, que influenciam as ações, emoções e ideias dos indivíduos. Arché, do grego, princípio, origem. E typos, como modelos, tipos, formas. Daí nasce o conceito que representa o protótipo primeiro de algo: a forma original das idéias, emoções e comportamentos universais, que podem variar bastante em detalhes sem perder seu padrão básico. Os quatro principais arquétipos a emergir da obra de Jung incluem a anima/animus, o Si-mesmo, a Sombra e a Persona. Além disso, Jung se referiu às imagens do Herói, do Velho Sábio, da Criança, do Pai e da Mãe, entre outros.
Dito isso, vem a pergunta: o quanto neste caminho da individuação somos nós que estamos trilhando, originalmente, e o quanto deste caminho não é ditado por este centro autônomo, que tende a produzir, em cada geração, a repetição e a elaboração dessas mesmas experiências. que se encontram entrelaçadas na psique, sendo praticamente impossível isolá-las? Assim, o processo dialético da análise oferece um processo técnico, no qual o analista e paciente trabalham juntos para encontrar o caminho apontado pelo Self, que tem mais a ver com a essência do paciente, buscando compreender simbolicamente o que aquela situação está representando para o indivíduo e como ele funciona no mundo. Por isso, durante as sessões, o analista não é o agente, mas um participante amigo neste processo, ouvindo e pontuando para refletir junto com o paciente as principais questões trazidas à tona pelo Self. Neste sentido, a psicoterapia analítica não é rígida, não é linear; ela segue as diretrizes da própria ordem psíquica.